O Rei Leão

Na enorme savana africana, os grandes elefantes, as zebras e as girafas estão se reunindo.

Todos vão celebrar um nascimento na Terra dos Leões.

Rafiki, o velho babuíno, levanta Simba bem alto para que todos os animais possam admirá-lo.

Viva o novo Príncipe!

- Veja, Simba, nosso território é muito grande.

Uma noite não é o bastante para percorrê-lo de uma extremidade à outra. Um dia, você será o rei disso tudo.

- Nala pode vir brincar comigo

- É claro, Simba assim que ela terminar seu banho. Não vai demorar muito.

- Calma, Simba! Você está indo muito rápido!

- Apresse-se, Nala! Os avestruzes estão nos esperando para uma corrida!

- Tio Scar! Meu pai disse que um dia eu serei rei!

- Você ainda é bem jovem, meu sobrinho.

Divirta-se, aproveite a vida, brinque com seus amigos.

- Está bem, Timon.

Eu vou experimentar isso, mas será para agradar você!

- A gente se vê depois da sesta, está bem, Simba?

- Eu também vou tirar um cochilo - disse Pumba.

- Acho que o lanche de timon me embrulhou o estômago.

- Acordem todos! Vamos brincar de esconde-esconde!

No futuro, Simba será um grande rei!

Peter-Pan

Todas as crianças crescem, Peter Pan não! Ele mora na Terra do Nunca.

Um dia junto com a Fada Sininho, foi visitar seus amigos Wendy, João e Miguel.

Peter levou-os para conhecer a Terra do Nunca. Com a mágica de Sininho eles saíram voando. Avistaram o barco pirata, a aldeia dos índios e a morada dos meninos perdidos.

O Capitão Gancho viu Peter Pan e seus amigos voando e resolveu atacá-los;

Peter Pan salvou Wendy antes que ela caísse no chão.

Os meninos perdidos moravam dentro de uma árvore oca. Wendy contou lindas estórias para eles. Ela gostou dos meninos.

Um dia o Capitão Gancho raptou a princesa dos índios, mas Peter Pan apareceu para libertá-la. O Capitão Gancho fugiu e o Crocodilo Tic Tac quase o enguliu, mas ele escapou.

Mas o Capitão Gancho não desistiu. Desta vez capturou os meninos perdidos, levou-os para o barco pirata, de lá eles seriam jogados no mar.

Mas Peter Pan veio salvar os seus amigos. Lutou com Gancho e o derrubou.

De volta ao lar, Wendy pediu que Peter Pan ficasse com eles, mas ele disse que não e preferiu a Terra do Nunca, assim ele nunca cresceria e poderia brincar com todas as crianças sempre.

Pocahontas

Há muitos anos, nas terras da Virgínia, vivia uma jovem índia chamada Pocahontas.

Um dia seu pai, o grande chefe Ponhatan, comunico-lhe que Kocoum,

o guerreiro mais valente da tribo, havia pedido em casamento.

Pocahontas, confusa, foi pedir conselho à Avó Willow, um velho espírito que habitava uma árvore na Floresta Encantada.

- Vovó - perguntou Pocahontas - o que devo fazer?

- Minha jovem, tudo à sua volta são espíritos. Ouça-os com o coração e eles lhe mostrarão o caminho.

O navio "Suzan Constant"acabava da aportar na Virgínia. Neles viajavam colonos ingleses comandados pelo governador Radcliffe e pelo capitão John Smith.

Vinham em busca de terras e ouro. Tão logo desembarcaram, o governador ordenou ao capitão que fosse inspecionar o lugar.

Ao entardecer, enquanto John Smith explorava a floresta, ouviu um ruído. Não lhe deu importância e se aproximou do rio para beber água.

Nesse momento, notou que alguém o seguia. Escondido, preparou sua arma e, quando ia atirar, descobriu a moça mais linda que já tinha visto: Pocahontas.

Embora a princípio a jovem paracesse assustada, logo confiou em John. Juntos compartilharam momentos muito felizes, descobrindo os segredos da natureza.

Mas a felicidade de Pocahontas e John Smith durou pouco . . .

A ganância de Ratcliffe havia colocado os colonos contra os índios.

Pocahontas tentou evitar a guerra, mas um dos colonos disparou contra Kocoum e o matou.

O índios condenaram o capitão Smith à morte.

No momento em que iam executá-lo, Pocahontas se pôs à frente de John, para protegê-lo.

- Se o matarem, terão de me matar primeiro - disse a seu pai.

Os colonos, surpresos com a coragem de Pocahontas, baixaram as armas.

Radcliffe, furioso disparou contra Pohantan. O valente Smith se colocou à frente do chefe índio e o tiro o atingiu.

Diante da gravidade dos ferimentos, John teve de voltar à Inglaterra.

Pocahontas se despediu dele sabendo que um levaria o outro para sempre no coração.

João e Maria

Às margens de uma floresta existia, há muito
tempo, uma cabana pobre feita de troncos de árvores, onde moravam
um lenhador, sua segunda esposa e seus dois filhinhos, nascidos do
primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a menina, Maria.
Na casa do lenhador, a vida sempre fora difícil, mas, naquela
época, as coisas pioraram: não havia pão para todos.
— Mulher, o que será de nós? Acabaremos morrendo de fome. E
as crianças serão as primeiras.
— Há uma solução... – disse a madrasta, que era
muito malvada – amanhã daremos a João e Maria um pedaço de
pão, depois os levaremos à mata e lá os abandonaremos.
O lenhador não queria nem ouvir um plano tão cruel, mas a mulher,
esperta e insistente, conseguiu convencê-lo.
No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado tudo, e
Maria desatou a chorar.
— E agora, João? Sozinhos na mata, vamos nos perder e
morrer.
— Não chore — tranqüilizou o irmão. — Tenho
uma idéia.
Esperou que os pais estivessem dormindo, saiu da cabana, catou um
punhado de pedrinhas brancas que brilhavam ao clarão da Lua e as
escondeu no bolso. Depois voltou para a cama. No dia seguinte, ao
amanhecer, a madrasta acordou as crianças.
— Vamos cortar lenha na mata. Este pão é para vocês.
Partiram os quatro. O lenhador e a mulher na frente, as crianças
atrás. A cada dez passos, João deixava cair no chão uma pedrinha
branca, sem que ninguém percebesse. Quando chegaram bem no meio da
mata, a madrasta disse:
-— João e Maria, descansem enquanto nós vamos rachar lenha
para a lareira. Mais tarde passaremos para pegar vocês.
Os dois irmãos, após longa espera, comeram o pão e, cansados e
fracos, adormeceram. Acordaram à noite, e nem sinal dos pais.
— Estamos perdidos! Nunca mais encontraremos o caminho de
casa! — soluçou Maria.
— Quando a Lua aparecer no céu acharemos o caminho de casa
— consolou-a o irmão.
Quando a Lua apareceu, as pedrinhas que João tinha deixado cair
pelo atalho começaram a brilhar, e, seguindo-as, os irmãos
conseguiram voltar à cabana.
Ao vê-los, os pais ficaram espantados. O lenhador, em seu íntimo,
estava contente, mas a mulher não. Assim que foram deitar, disse
que precisavam tentar novamente, com o mesmo plano. João, que tudo
escutara, quis sair à procura de outras pedrinhas, mas não pôde,
pois a madrasta trancara a porta. Maria estava desesperada.
— Como poderemos nos salvar desta vez?
— Daremos um jeito, você vai ver.
Na madrugada do dia seguinte, a madrasta acordou as crianças e
foram novamente para a mata. Enquanto caminhavam, Joãozinho
esfarelou todo o seu pão e o da irmã, fazendo uma trilha. Desta
vez afastaram-se ainda mais de casa e, chegando a uma clareira, os
pais deixaram as crianças com a desculpa de cortar lenha,
abandonando-as.
João e Maria adormeceram, famintos e cansados. Quando acordaram,
estava muito escuro, e Maria desatou a chorar.
Mas desta vez não conseguiram encontrar o caminho: os pássaros
haviam comido todas as migalhas. Andaram a noite toda e o dia
seguinte inteirinho, sem conseguir sair daquela floresta, e
estavam com muita fome. De repente, viram uma casinha muito
mimosa. Aproximaram-se, curiosos, e viram, encantados, que o
telhado era feito de chocolate, as paredes de bolo e as janelas de
jujuba.
— Viva!— gritou João.
E correu para morder uma parte do telhado, enquanto Mariazinha
enchia a boca de bolo, rindo. Ouviu-se então uma vozinha aguda,
gritando no interior da casinha:
— Quem está o teto mordiscando e as paredes roendo?
As crianças, pensando que a voz era de uma menina de sua idade,
responderam:
— É o Saci-pererê que está zombando de você!
Subitamente, abriu-se a porta da casinha e saiu uma velha muito
feia, mancando, apoiada em uma muleta. João e Maria se assustaram,
mas a velha sorriu, mostrando a boca desdentada.
— Não tenham medo, crianças. Vejo que têm fome, a ponto
de quase destruir a casa. Entrem, vou preparar uma jantinha.
O jantar foi delicioso, e a velha senhora ajeitou gostosas
caminhas macias para João e Maria, que adormeceram felizes. Não
sabiam, os coitadinhos, que a velha era uma bruxa que comia
crianças e, para atraí-las, tinha construído uma casinha de doces.
Agora ela esfregava as mãos, satisfeita.
— Estão em meu poder, não podem me escapar. Porém estão um
pouco magros. É preciso fazer alguma coisa.
Na manhã seguinte, enquanto ainda estavam dormindo, a bruxa
agarrou João e o prendeu em um porão escuro, depois, com uma
sacudida, acordou Maria.
— De pé, preguiçosa! Vá tirar água do poço, acenda o fogo
e apronte uma boa refeição para seu irmão. Ele está fechado no
porão e tem de engordar bastante. Quando chegar no ponto vou
comê-lo.
Mariazinha chorou e se desesperou, mas foi obrigada a obedecer.
Cada dia cozinhava para o irmão os melhores quitutes. E também, a
cada manhã, a bruxa ia ao porão e, por ter vista fraca e não
enxergar bem, mandava:
— João, dê-me seu dedo, quero sentir se já engordou!
Mas o esperto João, em vez de um dedo, estendia-lhe um ossinho de
frango. A bruxa zangava-se, pois apesar do que comia, o moleque
estava cada vez mais magro! Um dia perdeu a paciência.
— Maria, amanhã acenda o fogo logo cedo e coloque água
para ferver. Magro ou gordo, pretendo comer seu irmão. Venho
esperando isso há muito tempo!
A menina chorou, suplicou, implorou, em vão. A bruxa se
aborrecera de tanto esperar.
Na manhã seguinte, Maria tratou de colocar no fogo o caldeirão
cheio de água, enquanto a bruxa estava ocupada em acender o forno
para assar o pão. Na verdade ela queria assar a pobre Mariazinha,
e do João faria cozido.
Quando o forno estava bem quente, a bruxa disse à menina:
— Entre ali e veja se a temperatura está boa para assar
pão.
Mas Maria, que desconfiava sempre da bruxa, não caiu na
armadilha.
— Como se entra no forno? — perguntou ingenuamente.
— Você é mesmo uma boba! Olhe para mim! — e enfiou
a cabeça dentro do forno.
Maria empurrou a bruxa para dentro do forno e fechou a portinhola
com a corrente. A malvada queimou até o último osso.
A menina correu para o porão e libertou o irmão. Abraçaram-se,
chorando lágrimas de alegria; depois, nada mais tendo a temer,
exploraram a casa da bruxa. E quantas coisas acharam! Cofres e
mais cofres cheios de pedras preciosas, de pérolas...
Encheram os bolsos de pérolas. Maria fez uma trouxinha com seu
aventalzinho, e a encheu com diamantes, rubis e esmeraldas.
Deixaram a casa da feiticeira e avançaram pela mata.
Andaram muito. Depois de algum tempo, chegaram a uma clareira, e
perceberam que conheciam aquele lugar. Certa vez tinham apanhado
lenha ali, de outra vez tinham ido colher mel naquelas árvores...
Finalmente, avistaram a cabana de seu pai. Começaram a correr
naquela direção, escancararam a porta e caíram nos braços do
lenhador que, assustado, não sabia se ria ou chorava.
Quantos remorsos o tinham atormentado desde que abandonara os
filhos na mata! Quantos sonhos horríveis tinham perturbado suas
noites! Cada porção de pão que comia ficava atravessada na
garganta. Única sorte, a madrasta ruim, que o obrigara a livrar-se
dos filhos, já tinha morrido.
João esvaziou os bolsos, retirando as pérolas que havia guardado;
Maria desamarrou o aventalzinho e deixou cair ao chão a chuva de
pedras preciosas. Agora, já não precisariam temer nem miséria nem
carestia. E assim, desde aquele dia o lenhador e seus filhos
viveram na fartura, sem mais nenhuma preocupação

Alice no Pais das Maravilhas

Era uma vez uma menina chamada Alice. Numa tarde de verão, ela estava sob a sombra de uma árvore, ao lado de sua irmã mais velha, que lia um livro sem nenhuma figura. Achando aquilo muito chato, Alice foi ficando cada vez mais sonolenta quando, de repente, apareceu um coelho apressado com um enorme relógio exclamando:

- Hãaa!!! Nossa! É tarde, é tarde, é tarde, muito tarde!

O coelho entrou numa toca e a menina foi atrás. De repente, ficou tudo muito escuro e Alice sentiu que estava caiiindo, caiiindo, caiiindo num poço que parecia não ter fim.

Aí... de repente, plaft! Tinha caído sentada num monte de folhas secas. Olhando ao redor, ela viu uma pequena porta. Quis passar, mas não conseguiu, porque a porta era minúscula.

Havia por ali uma lata em que estava escrito "Coma-me". Abriu a lata mais que depressa e, vendo que eram biscoitos, começou a comer. Pra surpresa de Alice, quanto mais ela comia, menor ficava em tamanho. Foi ficando pequenininha, pequenininha e assim conseguiu passar pela portinha.

Saiu então num jardim onde viu flores falando e cantando. Isso a deixou super-admirada. Perguntou então às flores:

- Como posso crescer novamente?

- Siga em frente. Responderam em coro.

Alice obedeceu. Andou, andou, e encontrou em cima de um cogumelo um bichinho verde que lhe perguntou:

- Que deseja, menina?

Percebendo a tristeza de Alice, o bichinho verde disse:

- Coma do cogumelo, mas coma só do lado direito, senão você diminui.

Minutos depois de comer, Alice voltou ao seu tamanho normal. Muito feliz, ela levou consigo mais dois pedacinhos do cogumelo.

Sem rumo certo, Alice continuou a andar quando, inesperadamente, encontrou um gato risonho:

- Pode me indicar o caminho que devo seguir?. Disse a menina.

- Humm! Mas pra onde deseja ir? - perguntou o gato.

- Não sei!...

- Humm! À direita, mora o Chapéu; à esquerda, mora a Lebre de Março. Hãaa!. Tanto faz, menina, os dois são malucos, disse o gato.

- Maas, então, tenho eu que viver entre doidos?

- Humm! Humm! Dê trinta passos pra frente, trinta passos pra direita e mais trinta pra esquerda. Ali existe uma árvore que orienta.

Sem entender nada, mas levada pela intuição, Alice chegou na casa da Lebre de Março e viu a Lebre e o Chapéu tomando chá ao ar livre. Sentou-se à mesa com os dois.

- Mais vinho, Chapéu? - perguntou a Lebre.

- Oh! Oh! Oh! Sim, por favor, querida, um pouco mais de leite sem manteiga com casca de pão - respondeu ele.

Aturdida, sem entender nada, Alice saiu dali em disparada. Mais à frente, ela viu os soldados da Rainha de Copas pintando de vermelho as flores brancas que ali existiam.

- Mas por que estão pintando de vermelho as flores brancas?

- Plantamos flores brancas por engano. Como a Rainha só gosta de flores vermelhas, se não pintarmos as flores brancas de vermelho, ela manda cortar nossas cabeças, responderam eles.

No Reino de Copas, tirando essa maluquice toda, tudo corria normalmente. Um dia, porém, um soldado roubou da Rainha um pedaço de bolo. Foi preso pra ser julgado e condenado. E Alice, mesmo sem saber do acontecido, foi convocada pra testemunhar.

Estava pra se iniciar o julgamento, quando algo muito estranho aconteceu. Alice começou a crescer, a crescer... e ficou muito alta, com mais de um quilômetro de altura.

Os soldados então começaram a correr atrás dela pra expulsá-la do Reino, porque assim mandava a lei.

Nesse instante, Alice acordou e viu-se deitada no colo de sua irmã que lia um livro sem figuras. Ah, ah, ah! Felizmente, tudo tinha sido só um sonho!!!.

A Sereiazinha

Longe, muito longe no mar, a água é azul como as mais belas pétalas da centáurea e clara como o mais puro cristal. Mas é tão funda que não se pode sondar. Seria preciso pôr torres mais torres em cima umas das outras para se alcançar a superfície da água; e lá embaixo residem os habitantes do mar.

Mas não pensem que não há nada ali, exceto a areia deserta. Pois no fundo do mar crescem as árvores e as plantas mais estranhas, de caules e folhas tão flexíveis, que o menor movimento da água as faz balançar-se como se tivessem vida. Peixes de todas as qualidades deslizam entre seus ramos, a exemplo das aves aqui em cima na terra. No lugar mais fundo de todos ergue-se o castelo do rei do mar com suas paredes de coral e altas janelas góticas do mais claro âmbar. Seu telhado é feito de cascas de ostras, que se abrem e fecham de acordo com o movimento da água. Tem uma belíssima aparência, pois todas as conchas encerram as mais lustrosas pérolas, das quais uma só bastaria para dar valor inestimável a um diadema de rainha.

Fazia muitos anos que o rei do mar estava viúvo, e era sua própria mãe quem cuidava da casa para ele. Era ela uma mulher inteligente, mas orgulhosa de sua classe, pôr isso trazia na cauda doze ostras, enquanto aos outros grandes só se permitiam seis. Além disso, era merecedora de grandes elogios, especialmente porque amava carinhosamente suas netas — as princesas do mar. Eram seis, estas princesinhas, todas lindas; mas a mais linda era a caçula. Tinha a pele tão clara e fina como uma pétala de rosa; seus olhos eram tão azuis como o mar mais profundo; mas, a exemplo de todas as sereias, não tinha pés, pois seu corpo terminava numa cauda de peixe.

Podiam as princesas brincar o dia inteiro no castelo, em cujas paredes cresciam flores viventes. As grandes janelas de âmbar se abriam e os peixes entravam pôr elas, assim como fazem as andorinhas quando abrimos as janelas de casa; mas os peixes nadavam diretamente para as princesas, comiam de suas mãos, e deixavam-se acariciar.

Fora do castelo havia um grande jardim com flores vermelho-vivo e azul-escuras; os frutos brilhavam como ouro, e as flores como labaredas de fogo, continuamente balançando seus caules e folhas. O fundo era coberto da areia mais fina, azul como luz de enxofre. Uma peculiar radiosidade azul emanava de todas as coisas em redor, de modo que qualquer pessoa podia pensar que estava nas alturas, como clossel do céu acima e à volta, nunca no fundo mais profundo do mar... Nas horas de calma podia-se ver o sol, que parecia uma flor purpúrea de onde jorrava toda a luz.

Cada uma das princesinhas possuía um pedaço do jardim, onde podia cavoucar e plantar como bem entendesse. Uma deu a seu canteiro a forma de uma baleia; outra achou melhor dar ao seu a forma de uma mulher marinha; mas a mais novinha fez o seu redondo como o sol, e ali plantou flores vermelhas que brilhavam como o próprio astro-rei. Esta princesinha era uma criança singular, muito calada e pensativa; e certa vez, quando suas irmãs exibiram as lindas coisas que tinham ganho dos navios naufragados, ela apenas quis além das flores parecidas com o sol, uma estatueta de mármore. Esta representava um bonito menino, talhado em pedra branca, e afundara-se no mar depois de um naufrágio. A princesinha plantou um salgueiro cor-de-rosa ao lado da estatueta; a árvore cresceu extraordinariamente e inclinou os galhos pôr cima da estatueta até a areia azulada, onde as sombras escureciam em violeta e dançavam como os próprios galhos. Parecia que as extremidades da árvore e as raízes estavam brincando de beijar-se entre si.

Não havia prazer maior para a princesinha do que ouvir o mundo dos homens acima do mar. A velha avó tinha de contar-lhe tudo o que sabia sobre navios e cidades, homens e animais. Era lindo saber que na terra havia flores que cheiravam (pois as do fundo do mar não tinham perfume), e que as árvores eram verdes, e que os peixes de lá podiam cantar alto e claro, enquanto saltitavam de galho em galho... O que a avó chamava de peixes eram passarinhos, e a princesinha não podia entender outra coisa, pois nunca em sua vida avistara um passarinho.

- Quando você fizer quinze anos — disse-lhe a avó terá licença de subir à superfície do mar, sentar-se nas rochas debaixo do luar e ver passar os grandes navios. Então sim, verá florestas e cidades!

No ano seguinte uma das irmãs completou quinze anos, mas havia a diferença de um ano de idade entre as princesinhas, de modo que a mais nova ainda teria de esperar cinco anos antes de poder subir à superfície do mar e ver o mundo tal como era. Mas umas prometeram as outras contar o que tinham visto e o que acharam mais lindo no primeiro dia da visita: pois era impossível à avó contar tudo tantas eram as coisas que elas desejavam saber.

Ninguém mais aflita pôr causa disso do que a princesinha mais nova justamente aquela que tinha de esperar mais tempo para subir à tona, e que era mais quieta e pensativa. Muitas noites ficava perto da janela aberta, olhando através da água azul os peixes que nadavam num lampejar de cauda e barbatanas. Também via a lua e as estrelas, que naturalmente tinham um brilho frouxo, mas que através da água pareciam muito maiores do que parecem para nós aqui na terra. Quando alguma coisa parecida com uma nuvem negra passava acima da sua cabeça, ela sabia que era uma baleia que passava, ou um navio cheio de gente. Gente que, naturalmente, nem sonhava que uma linda sereiazinha estava lá embaixo, e estendia suas brancas mãozinhas para a quilha do navio.

A princesa mais velha fez quinze anos e subiu afinal para a superfície do mar.

Quando voltou, tinha uma centena de coisas para contar mas a melhor de todas, disse ela, era ficar deitada num banco de areia sob o luar que prateava o mar tranqüilo, e contemplar a costa próxima, com sua cidade grande onde as luzes piscavam como um milhar de estrelas, ouvir a música, o clamor dos homens e o rumor das carruagens. ver os numerosos campanários das igrejas e ouvir os sinos bimbalhando. E só porque não podia aproximar-se de nenhuma dessas coisas, queria-as mais que a qualquer outra no mundo.

Com que atenção a escutava à irmã mais nova! E mais tarde, quando esta foi postar-se junto à janela aberta e olhar a água azul-escura, como pensou na cidade grande com todo o seu rumor e burburinho! Até julgou ouvir, nas profundezas onde estava, um rumor de sinos badalando.

No ano seguinte a segunda teve licença de subir à superfície e nadar para onde quisesse. Subiu à tona justamente na hora do pôr do sol, e este espetáculo, disse ela, era o mais bonito de todos. O céu inteirinho parecia feito de ouro, e quanto às nuvens, era impossível descrever sua beleza. Estas flutuavam acima da sua cabeça, coloridas de púrpura e violeta, porém muito mais rápido que as nuvens passou voando rumo ao sol, um bando de cisnes que se diria um véu branco em cima da água. A sereiazinha tentou nadar naquela direção, mas o sol mergulhou no horizonte, e a cor rosada se desvaneceu nas nuvens e no mar.

No ano seguinte foi a vez da terceira sereiazinha. Como era a mais ousada das cinco, subiu um largo rio que desaguava no mar. Viu esplêndidos montes cobertos de vinhedos; palácios e castelos surgindo brilhantes entre magníficas florestas; ouviu pássaros cantarem; e o sol fulgia tanto, que ela foi muitas vezes obrigada a mergulhar na água para refrescar o rosto ardente. Numa pequena angra viu um enxame de pequeninos seres. Estavam todos nus, chapinhando na água; quis brincar com eles, mas todos fugiram assustados, e um animalzinho preto correu atrás dela (era um cãozinho, mas ela não sabia o que era isso) e latiu com tanta força que ela também se assustou e tratou de sair para o mar. Mas nunca se esqueceu das magníficas florestas, dos montes verdejantes e das lindas crianças que nadavam, embora não possuíssem caudas de peixe ou barbatanas.

A quarta sereiazinha não era tão ousada: deixou-se ficar no meio do mar bravio, depois disse que era esse o espetáculo mais belo. Podia-se estender a vista muitas milhas em torno, e o céu na altura parecia uma redoma de cristal. Viu navios, porém muito distantes, e comparou-os a gaivotas. Os engraçados golfinhos viravam cambalhotas sobre as ondas e enormes baleias esguichavam água pelas narinas, como centenas de repuxos à sua volta.

Enfim chegou a vez da quinta irmãzinha. O seu aniversário caíra no inverno, pôr isso ela viu o que as outras não tinham visto na primeira vez. O mar estava verde, e grandes icebergs flutuavam na superfície; cada um parecia uma pérola, disse ela, e era no entanto muito mais alto do que os campanários edificados pelo homem. Os icebergs assumiam as formas mais fantásticas, e cintilavam como diamantes. Ela sentara-se no topo de um dos maiores, e deixara que o sol brincasse com seus longos cabelos. Todos os navios passavam rapidamente junto ao lugar onde ela se encontrava, e quando começou a escurecer, o céu se cobriu de nuvens, o trovão roncou e as negras ondas levantaram os blocos de gelo, oferecendo-os ao clarão vermelho dos coriscos. Içaram-se as velas em todos os navios, e houve medo e aflição. Ela porém continuou sentada no iceberg flutuante, e viu os relâmpagos azuis bifurcarem-se, precipitando-se no mar.

Cada uma das irmãs, após voltar da primeira visita à superfície do mar, vivia feliz e contente com a lembrança dos novos e belos espetáculos que presenciara. Mas agora, como meninas crescidas que eram e que tinham licença de lá ir quando bem quisessem, o assunto se lhes tornou indiferente. Preferiam voltar depois de um mês, dizendo que era muito melhor nas profundezas. pois ali se sentiam comodamente em casa.

Muitas noites, de braços dados, as cinco irmãs subiam juntas para a tona da água. Tinham lindas vozes, mais lindas do que qualquer voz mortal; e quando a tempestade ameaçava, e elas percebiam que o navio ia afundar, nadavam na dianteira e cantavam lindas cantigas, que diziam da beleza do fundo do mar, e exortavam os marujos a que não tivessem medo de ir ao fundo. Os marujos porém não as entendiam, e pensavam que era a tempestade que cantava. Tampouco viam os esplendores debaixo da água, pois se o navio afundava morriam afogados e só chegavam como cadáveres no palácio do rei do mar.

Quando as irmãs subiram, de braços dados, na hora do anoitecer, a sexta irmãzinha ficou olhando-as e teve até vontade de chorar; mas uma sereia não tem lágrimas, e pôr isso sofre mais do que ninguém.

- Oh! se eu tivesse quinze anos! - suspirou ela. - Sei que vou gostar imensamente do mundo lá de cima, e da gente que ali vive e reside!

Finalmente um dia completou quinze anos.

- Agora, sim; veja como está crescida! - disse a avó. — Venha cá; deixe-me enfeitá-la como fiz as suas irmãs.

Colocou uma grinalda de lírios brancos nos cabelos da menina, mas cada flor era a metade de uma pérola. Depois deixou que oito enormes ostras se agarrassem na cauda da princesa, em sinal da sua alta classe aristocrática.

- Estão me machucando! gemeu a sereiazinha.

- Paciência — respondeu a anciã. É preciso que o orgulho sofra.

Mas como a princesinha ficaria contente se pudesse sacudir de si todos aqueles emblemas aristocráticos e pôr de lado a pesada grinalda! Gostava muito mais das flores vermelhas de seu jardim; mas que podia fazer?

- Adeus! disse ela, e começou a subir, leve e clara como uma bolha de água, para a superfície do mar.

O sol acabara de pôr-se quando sua cabeça emergiu, mas as nuvens ainda brilhavam róseas e douradas, e no céu vermelho-pálido as primeiras estrelas fulgiam, radiosamente belas. O ar era ameno, e o mar estava tranqüilo. Um grande navio de três mastros flutuava na superfície; içara apenas uma vela. pois não havia brisa, e sob as vergas e as enxárcias aglomeravam-se os marinheiros. Tocavam e cantavam. e quando a noite desceu de todo, acenderam-se centenas de lanternas coloridas, como se as bandeiras de todas as nações ali estivessem ondulando no ar. A sereiazinha nadou diretamente para a janela da cabina, e cada vez que o mar a levantava, ela podia espiar pela vidraça, clara como cristal, e ver muitas pessoas vestidas com grande luxo. Mas a mais bela de todas era o jovem príncipe de grandes olhos negros. Não teria mais de dezesseis anos, e aquele era o dia de seu aniversário; pôr isso festejavam. Os marujos dançavam no tombadilho, e quando o jovem príncipe apareceu, mais de cem foguetes espoucaram no ar, brilhantes como o dia. A sereiazinha se assustou e mergulhou dentro da água. Logo porém tornou a pôr a cabeça de fora, e então lhe pareceu que todas as estrelas do céu estavam caindo em cima dela. Nunca vira fogos de artifício. E agora, grandes sóis estouravam à sua volta, magníficos peixes de fogo voavam no ar azul, e o mar era um espelho que tudo refletia. O próprio navio estava tão bem iluminado que se podia ver cada cabo separadamente, e as pessoas ali apareciam com a maior clareza. Oh! como o príncipe era belo! Apertava as mãos de toda gente e sorria, enquanto a música vibrava dentro da noite magnífica.

Foi ficando tarde, mas a sereiazinha não podia tirar os olhos do navio e do formoso príncipe. As lanternas coloridas se apagaram, os foguetes deixaram de espoucar no céu e não mais se dispararam os canhões; havia porém um murmúrio e um zumbido bem no fundo do mar; e a sereiazinha ficou se balançando na água, subindo e descendo para espiar no interior da cabina. Mas enquanto o navio se adiantava, içaram-se as velas, uma após outra. As ondas se alteavam, surgiram nuvens enormes, e na distância o raio estralejou. Oh! ameaçava um horrível temporal, os marujos recolheram as velas. O navio corria rápido sobre o mar encapelado; as águas subiam como enormes montanhas negras, ameaçando cair em cima dos mastros; mas como um cisne, o navio se afundava nos vales abertos entre as ondas altíssimas, depois tornava a deixar-se levantar pôr elas. Para a sereiazinha isto parecia uma simples brincadeira, mas para os marujos era coisa muito diferente. O navio estalava e rangia; as grossas pranchas se entortavam sob os pesados golpes; o navio foi invadido pelo mar, e, como um frágil caniço, o mastro de mezena partiu-se em dois. Finalmente adernado sob o impacto das ondas, o navio se deixou inundar pelas águas enfurecidas. Viu então a sereiazinha que os tripulantes estavam em perigo; teve, ela própria, de tomar cuidado, a fim de evitar as vigas e os fragmentos do navio que flutuavam ao redor. Houve um momento em que tudo ficou escuro como breu, ao ponto de não se poder enxergar qualquer objeto; mas quando clareou, a cena iluminou-se de tal modo, que ela podia distinguir todas as pessoas a bordo. Procurava, com afinco, ver o príncipe, e quando o navio se partiu, ela o viu afundar-se no mar. Ficou então muito contente, pois agora o príncipe iria a seu encontro. Nisto se lembrou de que as pessoas não podiam viver dentro da água, e que ele decerto estaria morto quando chegasse à casa do rei do mar seu pai. Não: ele não devia morrer! Nadou então entre as vigas e as pranchas que se espalhavam pela superfície, quase esquecida de que uma delas a poderia esmagar. Depois desceu para o fundo da água e tornou a subir à tona, e deste modo conseguiu enfim se aproximar do príncipe, que já não podia mais nadar no mar encapelado. Seus braços e suas pernas começavam a fraquejar, seus lindos olhos se fecharam e teria morrido, não fosse a sereiazinha Ter chegado a tempo. Ela segurou-lhe a cabeça acima da água, depois deixou que as ondas os carregassem para onde quisessem.

Ao raiar a manhã, a tempestade havia passado. Não se via nem sinal do navio. O sol subiu, vermelho e radioso, sobre as águas do mar, e era como se os seus raios devolvessem a cor da vida às faces do príncipe, cujos olhos entretanto continuavam fechados. A sereiazinha beijou-lhe a testa alta e clara, alisou-lhe os úmidos cabelos para trás, e ficou muito espantada ao verificar que ele parecia a estatueta de mármore do seu jardim submarino. Tornou a beijá-lo, esperançosa de que ele voltasse à vida.

Viu então à sua frente a terra firme com suas altas montanhas, em cujos píncaros a branca neve cintilava como se ali estivessem cisnes pousados. Lá embaixo na praia havia florestas viridentes e um edifício — ela não podia dizer se era igreja ou convento. No jardim do edifício cresciam laranjeiras e limoeiros, e altas palmeiras se agitavam em frente do portão. O mar formava ali uma pequena baia; era muito calmo, porém muito profundo. Ela nadou com o príncipe para um rochedo onde uma fina areia branca se amontoara, deitou o príncipe na areia e continuou amparando-lhe a cabeça sob o sol tépido.

Nisto, todos os sinos se puseram a tocar no grande edifício branco, e uma porção de meninas saiu para o jardim. A sereiazinha nadou para mais longe entre algumas pedras altas que sobressaíam no mar, pôs um pouco de espuma nos cabelos e no pescoço para que ninguém lhe visse o rosto. depois sentou-se e ficou vigiando para ver o que acontecia ao pobre príncipe.

Dentro em pouco uma das meninas caminhou em sua direção De repente teve um sobressalto, e chamou gente, e a sereiazinha percebeu que o príncipe voltara à vida e sorria a todos em redor. Mas para ela não sorriu; não sabia que ela o havia salvo. A sereiazinha ficou muito triste; e quando o levaram para o grande edifício, ela afundou desconsolada dentro da água e voltou para o palácio de seu pai.

Ela sempre fôra muito quieta e tristonha, mas de então em diante ficou ainda mais tristonha e mais calada. Assim que chegou, as irmãs lhe perguntaram o que tinha visto acima da superfície do mar; ela porém não disse nada.

Muitas noites e manhãs voltou para o lugar onde deixara o príncipe. Viu os frutos do jardim amadurecerem e serem colhidos; viu a neve derreter-se nos altos píncaros das montanhas; mas não viu o príncipe, de modo que sempre voltava para casa ainda mais triste do que antes. Seu único consolo era ficar sentada no jardinzinho, e passar o braço em torno da estatueta de mármore parecida com o príncipe; contudo, já não cuidava das flores. Estas cresciam desordenadamente nos caminhos, e arrastavam suas longas folhas e caules pelos troncos acima, de modo que a escuridão ali era quase completa.

Finalmente não pôde mais suportar, e disse-o a uma das irmãs, enquanto as restantes também ouviram; mas ninguém ficou sabendo coisa alguma sobre o assunto, exceto mais algumas sereias, que contaram o segredo às suas amigas mais íntimas. Uma destas sabia quem era o príncipe; ela também assistira à festa a bordo do navio, e contou donde ele vinha e seu reino qual era.

- Venha aqui, irmãzinha! — disseram as outras princesas; e, de braços dados, subiram todas numa longa fila para a superfície do mar, para bem perto do lugar onde se erguia o palácio do príncipe.

Esse palácio era feito de uma espécie muito brilhante de pedra amarela, e tinha grandes escadarias, uma das quais conduzia diretamente para o mar. No telhado elevavam-se esplêndidas cúpulas douradas, e entre os pilares que rodeavam toda a morada, havia estátuas de mármore que se diriam vivas. Pelas claras vidraças das altas janelas, podiam-se enxergar os vistosos salões, onde se dependuravam ricas cortinas e tapeçarias de seda, ao mesmo tempo que as paredes viam-se adornadas com pinturas tão lindas que era um prazer contemplá-las. No centro do salão principal uma fonte jorrava, esguichando água para o teto em abóbada de vidro, através do qual o sol brilhava sobre a fonte e as lindas plantas que ali cresciam.

Agora ela sabia onde o príncipe morava, e foram muitas as noites e os dias que passou na superfície do mar. Nadava para mais perto da terra com uma coragem que as outras não tinham; chegava até a alcançar o estreito canal sob o esplêndido balcão de mármore que lançava uma vasta sombra em cima da água. E ai ficava sentada, observando o príncipe que julgava estar sozinho sob o luar.

Muitas foram as noites em que o viu sair, entre sons melodiosos de canções, no rico barco enfeitado de bandeiras esvoaçantes. Ela espiava pôr entre os verdes caniços, e quando o vento agitava o seu véu cor de branca prata, o príncipe pensava que eram cisnes desdobrando as asas...

Muitas foram as noites em que os pescadores saíram ao mar com suas tochas acesas, e ela ouviu as lindas coisas que eles diziam a respeito do príncipe; então rejubilava-se porque o salvara do furor das ondas encapeladas. Lembrava-se da doçura com que a sua cabeça lhe pousara no ombro, e a ternura com que ela lhe beijara a testa; de porém não sabia nada, nem sonhava que ela pudesse existir...

E a sereiazinha começou a amar cada vez mais a Humanidade, desejosa de viver entre aqueles cujo mundo parecia muito maior do que o dela. Os homens podiam cruzar o mar ajudados pôr navios, podiam subir montanhas muito acima das nuvens, e suas terras desdobravam-se em campos e florestas até onde a vista podia alcançar. Ainda havia muitas coisas que ela desejava saber, mas suas irmãs eram incapazes de responder a todas as suas perguntas. Dirigiu-se então à sua avó, pois a anciã conhecia muito bem o que denominava, com grande propriedade, "os países de mar acima".