A GALINHA DOS OVOS DE OURO


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Havia, no tempo dos deuses do Olimpo, um fazendeiro que era muito pobre. Era casado e tinha um filho de cinco anos, magrinho, tão magrinho que um vento forte poderia erguê-lo do chão.

A casa da fazendinha era velha. No telhado faltavam algumas telhas e, quando chovia, a mulher do fazendeiro espalhava panelas pelos quartos e sala para aparar as goteiras. A esposa reclamava muito. Para amenizar a situação, ele pescava no rio para matar a fome da família.

- Quando vamos sair dessa situação, homem? – perguntava a mulher com lágrimas nos olhos. Sem saber o que responder, ele abanava a cabeça.

Os vizinhos criticavam o fazendeiro, cochichando entre si, toda vez que ele passava a caminho do rio para pescar.

- Ele não se esforça...

- Ele não gosta é de pegar no pesado...

O homem era adorador de Hermes, um deus mitológico. Quando ele estava pescando conversava, em pensamento, com o deus e contava a sua triste situação. Condoído, Hermes resolveu ajudar o fazendeiro, dando-lhe uma galinha que botava ovos de ouro. Ele levou a ave para casa, colocando-a num pequeno compartimento atrás da cozinha. No dia seguinte, ele teve uma grande surpresa:

- Mulher! – chamou agitado – A galinha botou um ovo de ouro...

- Será mesmo, marido? – perguntou ela chegando e apalpando o ovo.

- Vou levar para o ourives ver. – disse decidido.

Chegando a loja ele apresentou o ovo esquisito ao ourives dizendo que era obra da sua galinha. O ourives, depois de examinar atentamente o ovo, deu o seu parecer final.

- É de ouro, sim. Do mais puro ouro. A sua galinha deve ter um tesouro dentro da barriga...

O ourives tratou de espalhar a notícia pelo vilarejo. O pobretão da fazendinha tinha um tesouro. Uma galinha que botava ovos de ouro. A princípio ninguém acreditou, mas, devido a mudança na vida do fazendeiro, eles começaram a prestar mais atenção. Primeiro foi a casa. De velha e destelhada, tornou-se um casarão bonito, reformado, pintado de branco com janelas azuis e telhado novinho. Depois o filho. Já não estava tão magrinho e vestia roupas novas. A mulher vivia mais alegre. Ele mesmo mudara de figura. Estava mais forte e a sua fazendinha estava cultivada. Ele plantara milho, feijão, verduras e frutas. A fome desapareceu de sua casa.

Alguns anos se passaram e, como não precisasse vender mais os ovos de ouro, pois o lucro que a fazendinha gerava era suficiente para cobrir as despesas, ele resolveu guardá-los. Era a sua poupança. O prefeito do vilarejo morria de inveja do fazendeiro. Dizia para as pessoas que ele é que merecia aquela galinha e não aquele infeliz que pouco sabia ler. Fazia de tudo para prejudicar o pobre fazendeiro. Um dia ele chamou o fazendeiro e propôs:

- Quero comprar a sua galinha dos ovos de ouro! O fazendeiro disse-lhe que ia pensar.

Acontece que ele não queria comprar nada. Ele queria roubar a galinha do homem. Já havia contratado uns capangas para, no final de semana, invadir a fazendinha e levar a galinha para ele.

Naquela noite o fazendeiro teve um sonho. Sonhou que o deus Hermes entrava em sua casa e lhe dizia:

- Dê a galinha de presente para o prefeito...

Ao acordar o fazendeiro pegou a ave e foi direto para a casa do prefeito.

- Aqui está a galinha. É um presente para o senhor... cuide bem dela, pois ela é um tesouro...

O prefeito, mais que depressa, agarrou a galinha e foi direto para a cozinha dando a ordem:

- Abatam esta galinha porque eu quero retirar o tesouro que está na barriga dela.

Um dos cozinheiros, que sabia da história dos ovos de ouro, perguntou:

- Tem certeza? Olhe, Sr. Prefeito, só galinha viva bota ovos...

- Vamos logo, seu molenga, execute logo o trabalho que eu quero pegar o tesouro.

E assim foi feito. Abatida e aberta a ave, o cozinheiro foi retirando tripas, papo, moela, fígado e nada de tesouro. Aquela galinha não diferente das demais. O prefeito, como louco, gritava:

- Cadê o tesouro, cadê o tesouro... cadê o tesouro...

Depois desse acontecimento, o prefeito ficou desvairado, falava com alguém que só ele via, perguntando insistentemente onde estava o tesouro da galinha dos ovos de ouro. Por esse seu estranho comportamento, acabou sendo expulso da prefeitura perdendo os bens que gananciosamente acumulara.

Moral da história: nem todos são merecedores das benesses dos deuses: gananciosos que querem sempre mais terminam perdendo até o que possuem.

O CÃO, O LOBO E O MESTRE MACACO.

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Um dia um cão saiu para caçar porque tinha quatro filhotinhos para alimentar. Depois de muito tempo procurando pegou um gordo coelho. Vinha todo feliz com o bichinho na boca quando saiu do mato um enorme lobo. O lobo rosnou, pôs os dentes de fora e disse com sua voz cavernosa:

- Está muito apressado, primo?

- Bem – gaguejou o cão -, é que meus filhotes estão com fome e eu estou levando o almoço pra eles.

O lobo, rosnando, disse:

- Quem autorizou você a caçar no meu território? Como eu não autorizei esse coelho me pertence. Pode largar aí mesmo e sair correndo porque, do contrário, você vira comida agora mesmo. O cão ponderou, mas não teve acordo. O jeito foi deixar o coelho e sair com o rabo entre as pernas.

Enquanto tudo isso acontecia, um macaco esperto estava no alto da árvore, coçando a barriga e de olho no cão e no lobo. O pobre cão já estava se afastando, triste por ter perdido o almoço, quando o macaco, com uma voz estridente, disse:

- Se eu fosse você não iria embora de boca vazia. Esconda-se entre a folhagem e espere um pouco...

- Você não entende macaco, se eu ficar serei morto por esse lobo enorme e os meus filhotes ficarão sem pai.

- Você, cão, nem sabe onde está caçando, não é verdade?

- Bem, o lobo disse que é no território dele.

- E você acreditou. Ora! Você não conhece as histórias desse espertalhão? Veja que a alcatéia não está com ele, ele está só, portanto é um lobo mentiroso e oportunista. Cá pra nós, amigo cão, esse seu primo quer mesmo é comer sem trabalhar.

Enquanto conversavam, macaco e cão, o lobo, que já havia pegado o coelho, foi se afastando com aquele ar de vencedor. Foi neste momento que saiu do mato um leão. O macaco disse ao cão:

- Agora você vai entender o que eu disse. Veja: aquele coelho foi morto no território do leão, e quem é que está com ele na boca? Quem? Quem? Você sabe que um animal não pode invadir o território do outro. O lobo será castigado por sua arrogância e covardia e você, embora culpado de invasão, irá recuperar a sua caça.

- Como, mestre macaco? Agora é que não tem jeito. Se eu não posso enfrentar o lobo que é meu primo, imagine um leão.

- Observe, observe...

Foi só o tempo de o cão virar a cabeça e ver o leão saltar sobre o lobo e o belo coelho voar pelos ares. Neste momento o cão aproveitou para pegar o coelho e partir para alimentar seus filhotes. Não sem antes agradecer ao macaco pelo conselho que lhe valeu a recuperação do almoço.

- Aprenda a esperar, meu amigo cão! A situação, às vezes, se reverte em favor do perdedor, principalmente se uma das partes é desonesta. Disse o macaco rindo.

JUMA – O jumento de Jesus


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Depois que os romanos souberam do nascimento de Jesus, eles ficaram furiosos porque haveria um rei para os judeus e, assim, ninguém mais obedeceria ao César. Foi aí que começou a perseguição. A ordem era pegar todos os nascidos naquela data. Todos os bebês do sexo masculino. Deus mandou um anjo avisar a José que era preciso fugir para um lugar bem longe onde não se pudesse encontrar o santo menino. E assim fez a família. É aí que entra o meu ancestral, um jumento forte e manso. Seu nome era Juma. Ele era muito respeitado no meio de todos os animais de carga, cavalo, burro, camelo, elefante e pelos da sua própria raça.

Quem estava contando esta história era um velho jumento chamado Nóca que havia se aposentado e como prêmio, pelos bons serviços prestados, seu dono o nomeou “Contador de Lendas” da sua fazenda. À noite, todo mundo se reunia em volta da fogueira, no terreiro da casa grande, para ouvir o jumento. E ele continuou a narrar a história e as crianças ouviam com muita atenção.

José, o pai de Jesus na Terra, saiu a procura de uma montaria que fosse forte e muito esperta, porque a caminhada até o Egito era muito longa. Ele começou a escolher entre os jumentos, aquele que teria a honra de levar na sua garupa Jesus e sua mãezinha. Parou diante de Juma e perguntou:

- Tens força o suficiente para conduzir minha família até o Egito?

- Tenho sim. – respondeu Juma com sua voz calma.

- Então, serás tu quem levará minha família e me ajudarás a defendê-la por toda a viagem.

De madrugada partiram para a terra estrangeira. Já estavam bem longe quando os romanos começaram a busca. Juma notou que uma cobra rastejava atrás dele deixando marcas no chão que podiam ser seguidas e assim alcançar a família. Juma parou e disse:

- Que o vento me siga apagando todas as marcas do chão. - E o vento veio e limpou a estrada de todos os passos do jumento e do rastejar da cobra que percebeu o mal que podia causar seguindo o jumento, e se foi para o mato. A viagem continuou. A certa altura da estrada, surgiu uma hiena e perguntou ao jumento:

- Esta é a criança que salvará o mundo? – Juma disse que sim. Então a hiena resolveu seguir o grupo. Mas aquela sua voz, que mais parece uma risada, alertou os romanos que estavam desorientados depois que o vento apagou os rastro do jumento e as passadas de José. Juma, com seu faro aguçado, percebeu que os soldados estavam se dirigindo, outra vez, para a estrada onde eles estavam. Então o jumento disse para a hiena:

- Vai-te daqui. Teu riso funciona como uma bússola. Corre para o deserto e eles te seguirão. – a hiena obedeceu. Outra vez os soldados ficaram confusos, não sabiam em qual das estradas viajava Jesus e seus pais. Ainda faltava muito para chegar ao Egito. Já era noite e José resolveu parar para que Maria descansasse e cuidasse do menino. Armou a tenda e saiu procurando lenha para acender uma fogueira porque a noite fazia muito frio. Juma, muito zeloso da segurança da sagrada família alertou José:

- Acender o fogo é reconfortante. Aquece o corpo, mas a fumaça indica o local onde estamos. – José concordou com ele e perguntou:

- Como farei para aquecer a mãe e o filho? Juma, com a sabedoria que tinha herdado de seu pai, resolveu a situação dizendo:

- Que venha a neblina por toda a estrada para encobrir a fumaça do fogo. – E assim aconteceu. Caiu uma densa neblina que não deixava enxergar nada. No dia seguinte continuaram a caminhada. Faltava só meio dia de andança para que eles chegassem ao seu destino, quando Juma ouviu um canto denunciador: bem-te-vi, bem-te-vi, viiii, bem-te-viii-bem-aquiii. Juma ficou preocupado e perguntou ao bem-te-vi pousado num galho de tamareira:

- Queres entregar o filho do Deus que te criou nas mãos dos romanos? – O bem-te-vi, assustado, disse que não. Estava cantando de alegria e comunicando aos outros pássaros a presença de Jesus naquele lugar.

- Então vai para o meio da floresta e canta lá para atrair os romanos. Já falta pouco para chegarmos.

E o bem-te-vi obedeceu deixando os romanos perdidos de vez. O resto da viagem foi só tranqüilidade. Eles chegaram, são e salvos, ao Egito e foram para uma casinha modesta onde Jesus cresceria. Depois de uns dias de descanso, Juma disse a Maria que ia voltar para Belém. Ela, muito agradecida, perguntou se ele não queria ficar ali com eles. Ele seria tratado como um membro da família. Juma aceitou emocionado e ficou na casa de José e Maria.

Jesus crescia rapidamente, já estava com dois anos quando deu um susto em Maria. Ela estendia as roupas no varal quando Juma passou por ela levando Jesus no seu lombo. A santa mãe disse para ele ter cuidado porque o menino poderia cair. Ao que Juma respondeu:

- O filho de Deus jamais cairá!

E Juma ficou sendo o companheiro fiel de Jesus em suas brincadeiras infantis. E quando Jesus, já adulto, entrou em Jerusalém, foi no lombo do seu amigo Juma que ele chegou arrastando multidões.

- Nóca, o seu ancestral era bem legal. – disse uma das crianças.

- Assim são os jumentos, fortes e leais.

As mães chamaram as crianças para dentro de casa, já era hora de dormir. Eles se despediram do jumento com a promessa de, no dia seguinte, ele contar outras histórias.

Nóca disse boa noite às crianças e foi para o seu cantinho descansar com a certeza de ter dado alegria àqueles meninos e meninas. Em oração ele pediu ao amigo do seu ancestral Juma que cuidasse de todas as crianças do mundo.

DIA DO PAPAI

DIA DO PAPAI

Hoje eu acordei feliz,
Vou sair para comprar
Um presente bem bonito
Para dar ao meu papai.

Percorri muitas lojas.
Camisas, lenços, gravatas,
Isto ele tem demais...
- Moço! Na sua loja tem

Beijos, amor e carinho?
Tudo isso os pais já possuem,
Você devia mudar seu estoque.
Embale beijos em caixas amarelas,

Amor em caixas cor-de-rosa,
E o carinho em caixas brancas
Porque são presentes eternos
Dos filhos para os seus pais.

Moço, eu não vou comprar nada
Nesta sua loja vazia e fria.
Material não me interessa.
E antes de sair eu lhe digo

Que o melhor presente
É o amor que se sente,
E que se guarda na prateleira
Da loja do coração.

O SONHO DA BONECA

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Lili, rósea boneca,

Sonha ver toda manhã

Cair flocos de neve

Do céu do seu armário.

Sonha ver a prateleira,

A rua onde ela mora,

Coberta de neve durinha

Pra deslizar com patins

Imaginando um bailado

De fantásticas piruetas

Nos braços do boneco

Da prateleira de cima.

Sonha Lili, sonha,

Pois tu és fruto do sonho

De todas as menininhas

De embalarem um dia

Uma boneca rosadinha,

Que não se vende em lojinhas

Nem dorme em armários

Só em braços maternos.

A LEBRE

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Corre e pula a branca lebre
Fugindo do esporte que é febre.
Não é olimpíada de bicho,
É do homem um capricho


Caçar tão indefeso bichinho.
Às vezes escapa porque ele não acompanha
A sua corrida que mais parece
Vôo rasante e desaparece
Entre o capim que floresce.


Mas a lebre não foge da sanha,
Da bocarra que a abocanha,
Do tigre que vem com manha
Fazer dela a sua picanha.

A FLORESTA DE CHOCOLATE


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- Vovó, isto que você está fazendo é o meu bolo de chocolate? – perguntou o menino de cinco anos, que entrou correndo na cozinha.

- É, meu querido! Seu gostoso bolo de chocolate. – respondeu a senhora.

- Você me deixa lamber a tigela? – perguntou ele já sentido a água crescer em sua boca.

- Só se não sujar a cara nem a roupa porque sua mãe fica brava comigo. – respondeu a vovó colocando o bolo no forno. Entregou a tigela para o menino, sentou-se em frente dele e disse:

- Enquanto você lambe o resto de massa de bolo, que ficou na tigela, eu vou contar a história da floresta de chocolate.

- Que legal! Oba! Existe floresta de chocolate, vovó?

- Não. Só nesta história que vou lhe contar. – e a vovó começou a sua narrativa.

- Num tempo que já vai longe demais, havia um reino governado por um rei muito triste. O seu palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de seda cinza, o céu, que ficava acima do palácio real, era coberto de nuvens cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração para a alegria não entrar. Ele não deixava as crianças brincarem. Elas não podiam cantar, nem dançar, nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés para não incomodar o rei.

O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que as crianças adoram. Ele dizia que as crianças fazem algazarra quando comem doces e ele não suportava isso. Ficava na janela do palácio, horas e horas, olhando as crianças sentadas no chão da praça conversando bem baixinho para não perturbar o seu sossego. Depois se recolhia no quarto real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.

Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica. Toda manhã a menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino e quando estavam chegando perto do castelo do rei, ela dizia:

- Lilica, não pode latir correndo atrás dos passarinhos, ouviu!

A cadelinha balançava a cabeça, dando sinal de que entendera a recomendação. Que lugar silencioso! Parecia um imenso deserto. Um dia, já cansada disso, Lisandra foi conversar com a fada Lilás que era sua amiga. Ela queria saber o motivo da tristeza do rei. A fada Lilás contou a história. O rei estava casado há muito tempo e não tinha filhos. O seu sonho era ter seus filhos correndo pelo castelo, muita risada, muita brincadeira, mas esta alegria a vida não lhe deu, e, assim sendo, ele resolveu decretar a lei do silêncio para as crianças. Então era isto.

Foi de Lisandra a idéia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar em outro lugar bem longe. De repente as crianças desapareceram. Durante as manhãs e as tardes de verão não se via mais elas andando silenciosamente pelas ruas. O rei ficou intrigado. Chamou seu primeiro-ministro e perguntou:

- Onde estão as crianças?

- Majestade, ninguém sabe. Elas, simplesmente, sumiram. – respondeu o primeiro-ministro temeroso, pensando nos seus cinco filhos que também sumiam e voltavam só a noitinha, sérios e compenetrados, sem dizer onde estiveram.

- Então mande apurar. Eu quero saber o que está acontecendo. – ordenou o rei.

E assim foi feito. O primeiro-ministro foi à presença do rei com a resposta:

- Majestade, as crianças, todas incluindo os meus filhos, depois das aulas e de cumpridas as tarefas, elas vão, sorrateiras, para a floresta.

O rei ouviu calado. Levantou-se do trono, e disse ao primeiro-ministro:

- Amanhã eu quero ir até a floresta. Preciso ver o que está acontecendo.

Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta verdadeira havia uma outra toda de chocolate. As árvores, as frutas, as flores, os pássaros, os bichos, os rios, córregos e riachos, tudo era de chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo com gotas de chocolate, assim como os morros e as montanhas. Foi a fada Lilás quem fez a mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam, riam alto e comiam os frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e com um canudinho, sugar o chocolate quentinho do rio. Depois foram brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas dos olhos do rei.

“Onde eu moro tem um rei

Que impôs a solidão

Proibindo as brincadeiras

Ele é um bicho-papão.”

Neste momento elas ouviram uma voz forte, era o primeiro-ministro:

- Sua majestade, o Rei. – e bateu com a ponta do bastão furando o chão de chocolate da floresta. As crianças ficaram em silêncio. O rei se aproximou, ainda tinha uma lágrima no canto do olho, e disse:

- Continuem, continuem... é muito bonita a canção.

Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de seda na mão pediu:

- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?

- Pode sim, menina.

E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou para conhecer a floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu chocolate do rio, subiu na goiabeira e saboreou uma gostosa goiaba de chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba com os olhinhos de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de chocolate com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de chocolate marrom e branco; um coelho branquinho, de açúcar, com olhos de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda do rei estava preocupada. Ele mudou. Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram um sorriso no rosto do monarca. Quando cansou de tanta brincadeira, o rei pediu silêncio, ele ia falar.

- Crianças, a partir deste momento, eu devolvo a vocês o direito de brincar, sorrir e cantar muito. Quero muita alegria, quero fazer parte do mundo infantil, embora eu seja um rei um tanto velho.

As crianças bateram palmas, e fizeram uma roda em torno do rei cantando uma nova canção.

“Chegou a hora da folia

Nosso rei restaurou a alegria

Xô tristeza, vá embora,

Neste reino só felicidade mora.”

E, a partir daquele momento, o rei abriu as portas do palácio para as crianças do seu reino que lhe deram a felicidade que ele desejava.

- Sabe vovó, eu queria morar num lugar assim.

- Por quê? Não está feliz aqui com o papai, a mamãe e a vovó?

- Estou sim, era só pra comer toda a floresta de chocolate. – disse o menino rindo muito.

- Ah! Seu malandrinho. Vamos lavar esta cara toda lambuzada antes que sua mãe chegue.

A DOR DE DENTE DO URSO


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Ai. Eu tenho um espinho no dente

Ai. Quem puder retirar qu’entre de sola

Ai. De frutos darei uma sacola,

Ai. Pra quem curar esta dor de dente.

Era assim que gemia um enorme urso marrom no meio da floresta. Os outros bichos tinham pena, porém não se arriscavam.

- Coitado! Queria muito ajudar, mas eu tenho medo porque sou tão pequeno e para alcançar o espinho preciso entrar em sua boca. – dizia um coelho branco.

- Eu também tenho medo, - disse uma anta – nunca se sabe o que pode um urso fazer. Ele já não come há dias. Sinto muito, mas não posso ajudar.

- Acho que desse jeito ele não vai parar de gemer. É certo não fazermos nada? – perguntou a raposa vermelha.

- Será que somos tão covardes? Como saber se o urso atacará quem o aliviar da torturante dor? – perguntou o leão de juba negra.

- Pelo sim ou pelo não, é melhor não arriscar. Se fosse você faria o quê? – perguntou a prudente coruja.

O leão não respondeu. O urso continuava a gemer com sua forte dor, quando chegou um caçador. Ao ver o urso, ele preparou a arma para atirar, mas percebeu que o animal gemia e não esboçou nenhum movimento de ataque. Alguma coisa estava fazendo aquele urso sofrer muito.

O urso, deitado no chão, parecia não ter notado a presença do homem. Gemia e se contorcia muito. O caçador se aproximou medroso, e oculto por um tronco, olhou, e viu espetado na gengiva do urso um grande espinho. Saiu do seu esconderijo e chegando mais perto arriscou: ele pôs a mão na cabeça do urso. Nenhuma reação brusca. Neste instante um macaco exclamou:

- Meu Deus! – e cobriu os olhos com uma das mãos para não ver o urso atacar o homem. Silêncio total na mata. O caçador, devagar, mesmo tremendo abriu a boca do urso e com uma ferramenta, puxando de uma só vez, arrancou o espinho que causava tanta dor ao bicho.

O animal soltou um urro que se ouviu muito além da floresta. Ficou ali, deitado, aliviado. Já não havia mais dor. O caçador, ainda receoso, acariciava a cabeça do urso. Em dado momento o urso se levantou. Ouviu-se, em uníssono, um “oh” de preocupação pela vida do homem.

O vento parou e todos os bichos fecharam os olhos para não ver. Quando abriram, a cena era inusitada. Aquele enorme urso lambia, agradecido, o rosto do caçador. Depois, afastou-se silencioso para o meio da floresta. Então a bicharada explodiu em aplausos para o caçador, exaltando a sua coragem, a sua humanidade, a sua sabedoria e a sua fé. O caçador partiu emocionado, e depois desse acontecimento nunca mais caçou animal algum.

A DISCUSSÃO DOS TALHERES

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Garfo, faca e colher estavam numa gaveta discutindo um assunto sério: quem era o melhor e o mais útil no mundo dos homens. A faca, vaidosa, dizia:

- Eu facilito a vida do homem. Corto coisas enormes que ele jamais poderia utilizar ou comer sem a minha ajuda.

O garfo, muito metido, disse com empáfia:

- Sem mim os homens teriam de usar os dedos para levarem os alimentos à boca, e como esquecem de lavar as mãos engoliriam tanta bactéria que teriam indigestão bacteriana.

- Você sabe por que o homem comia com os dedos?

- Não. – disse o garfo.

- Porque achavam que o alimento era sagrado e por isso devia ser comido com os dedos.

- Mas sem lavar as mãos, não é dona faca? Eu continuo dizendo que sou a ferramenta indispensável na mesa dos humanos.

A faca, nervosa, retrucou:

- Deixa de ser burro, garfo tonto. Garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro, um não funciona sem o outro. Eu sou talher mais antigo da história! Fui feita de pedra e servia para a caça e defesa. Depois passei a ser feita de bronze, isso numa outra época.

- Eu sei, seu bobo enxerido, que o homem oriental usava pauzinho a guisa de garfo, feito de bambu e tinha um nome engraçado, hashi. Isso você não sabia. Sabia? Sei, também, que apesar de você ser antigo só chegou ao mundo ocidental no século XI, na Itália. Você foi criado pelos gregos e adotado no século VII pelo Império Bizantino. Na Inglaterra, até o início do século XVII você era considerado utensílio efeminado.

- Não fale assim de mim, dona faca. – choramingou o garfo - Eu não sou efeminado. Eu nasci para facilitar, não para complicar. Eu sei tudo isso que você falou. Sei que ainda hoje, entre os orientais, permanece o uso dos pauzinhos. Com os pauzinhos o homem demorava muito tempo para comer. Cada vez que ele pegava uma porção para levar à boca, caía tudo de volta para o prato. Comigo não. Ele me enche de comida e eu entafulho a sua boca.

- Você, seu garfo, é malvado porque incita o homem a comer demais e muito rápido. O costume de comer muito e rápido é prejudicial à saúde. Os pauzinhos são uma forma de disciplinar a alimentação. Aos poucos e devagar. Com eles não se pode pegar um bolão de comida.

- Não adianta, dona faca, sem esse garfinho aqui o homem é nada vezes nada.

- Ora, não seja convencido! - exclamou a faca – às vezes você machuca a boca das pessoas.

- Ah, é!? E você que corta os dedos das crianças.

- Só das crianças desobedientes. Eu ouço sempre as mães dizendo:

- Crianças não brinquem com facas...

E o garfo exultante acrescentou:

- Viu, viu como eu sou mais útil do que você? Eu nunca ouvi uma mãe dizer: - Não peguem o garfo, crianças! Ah, ah, ah, eu sou bom demais!!!

- Pode rir seu bobo. – disse a faca amuada – o seu deboche não me atinge, porque eu sei que você também é perigoso nas mãos das crianças.

E a discussão continuou. A colher, que estava quietinha lá no seu cantinho, numa das divisões do porta-talher, interferiu:

- Dá licença!

- Pois não, dona colher – disse o garfo.

- Vocês estão nessa discussão boba de quem é melhor, quem é mais útil sem pensar que somos um conjunto. Deus permitiu que o homem tivesse a inspiração para nos criar e fazer de nós o pai, o filho e o espírito santo das cozinhas. Somos a tríade que facilita o trabalho de preparar e ingerir os alimentos. A minha história é meio nebulosa. Foram encontrados, em escavações, objetos semelhantes a mim, provavelmente, com mais de vinte mil anos. Sei que os gregos antigos utilizavam a colher de pau para preparar e comer os alimentos. Como vocês podem ver a minha história não é tão interessante quanto as suas. O que tenho certeza é que já fomos objetos rústicos, hoje somos mais modernos. Somos feitos de metal, plástico e madeira. Somos até jóias feitas em ouro e prata. Mas a nossa função é a mesma, desde que surgimos na civilização: ajudar o homem na sua alimentação.

Nós somos a união, e a união faz a força. Lembrem-se que um é complemento do outro. E se é para se gabar de utilidade, eu quero fazer uma pergunta:

- Diante de um fumegante prato de sopa, quem é o mais útil? Ah, ah, ah, ah, peguei vocês.

A DESOBEDIÊNCIA DO CÃOZINHO.

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Chuchuquinho era o quarto de uma ninhada de cinco cães da raça Labrador. Era lindo, tão lindo que os donos da casa, onde vivia com seus pais, resolveram que ele seria o cãozinho da filhinha mais nova. A mãe de Chuchuquinho cercava os filhotes de todos os cuidados. Não se descuidava da alimentação, da limpeza e da educação da sua prole. Assim eles iam crescendo fortes, saudáveis e muito inteligentes. A mãe de Chuchuquinho ensinava a todos como respeitar os humanos e a natureza. O cãozinho ouvia, atentamente, os conselhos que sua mãe dava:
- Meus filhos, obedeçam a sua mãe, sempre. Estudem para ter conhecimento das coisas. Leiam muito, porque os livros são a fonte do saber. Se quiserem ser verdadeiros cães, aprendam a lutar por tudo que querem, sem ferir a sensibilidade dos outros. Aprendam a não pegar o osso que não lhes pertence. Sejam amigos de todos, incluindo os humanos.

E assim os cãezinhos iam crescendo entre brincadeiras e aprendizado.

Um dia, a mãe de Chuchuquinho encontrou, na calçada, um livro de Geografia. Pegou-o, com os dentes, e o levou para casa. Chamou os filhotes e começou a folhear o livro. Chuchuquinho foi o que mais se encantou como livro. Passava horas e horas lendo sobre rios e riachos, montanhas, mares e florestas. Ficou encantado. Como era o mais curioso dos cinco, se pôs a pensar:
- E se eu fosse conhecer tudo isso?
Lembrou-se das lições de obediência que sua mãe sempre dava. Ainda não era um cão adulto para sair por aí sozinho. Continuou lendo o livro. A curiosidade aumentava.
Um belo dia ele se aventurou. Afastou-se um pouco da casa onde vivia, e viu um panorama diferente. Muitos carros, tanta gente correndo pra lá e pra cá. Alguém pisou na sua patinha. Ganiu de dor. Assustou-se. Voltou para casa. A mãe o repreendeu:
- Não quero que saia de casa sem o meu consentimento! Se isso acontecer novamente ficará de castigo.
Chuchuquinho ficou triste. Queria tanto saber como era o mundo sobre o qual ele lera naquele livro. Um dia ele ouviu uma conversa dos donos da casa. O homem dizia para a mulher:
- Amanhã eu vou pescar no rio com uns amigos. Por isso quero que prepare a minha sacola com as coisas que preciso. Levarei o cão comigo porque pretendemos caçar alguma coisa. Chuchuquinho já havia visto seu pai sair com o dono da casa e voltavam sempre com muitos pássaros mortos. Foi aí que ele bolou o plano. Esconder-se-ia na carroceria da caminhonete e quando chegasse no lugar da pesca ele desceria para explorar o mundo. Assim fez. E lá se foram o homem e seus amigos para a caça e pesca com o Chuchuquinho escondido numa caixa.
Assim que chegaram, tiraram os apetrechos de caça e pesca da caminhonete. Chuchuquinho tremia pensando na possibilidade de ser descoberto. Ouviu o latido de seu pai. Percebeu que tinham se afastado. Saiu do esconderijo. Olhou a sua volta. Era mato só. Mas ele gostou do que viu. Tanto pássaro cantando, coelhos correndo, veado saltando, ficou encantado. Era mesmo como o livro dizia. Agora queria ver o rio. Andou um pouco mais mato adentro. Lá estava ele. Imenso, barulhento, mas, ao mesmo tempo tão doce. A água transparente deixava ver os peixes nadando. Chuchuquinho até viu a sua imagem no espelho da água. Pensou:
- Até que eu sou um cão bonitinho. Também sou muito valente. Eu vou conhecer a geografia. E continuou a caminhar. Chegou até a montanha. Olhou para cima e exclamou:
- Caramba, como é grande! É maior do que no livro.
Andou mais um pouco. Foi para o lado direito da montanha. O que ele viu o deixou deslumbrado. Era uma cachoeira. Branca, tão comprida que mais parecia um longo véu de noiva. Já estava cansado de andar. Resolveu voltar para a caminhonete. Agora ele não sabia se estava no caminho certo. Já havia andado bastante e ainda não avistara o veículo. De repente, pumba, ele caiu numa armadilha de caçador que fez um tremendo barulho. Sua patinha ficou presa numa coisa, que ele não sabia o que era. Doía muito. Começou a ganir. Passou um tempo e ele ouviu vozes e um latido de cão. Eram os homens felizes porque haviam capturado uma lebre. Quando chegaram mais perto, Chuchuquinho reconheceu a voz do homem e do seu pai. Aproximaram-se da armadilha para retirarem a pretensa lebre, quando o homem exclamou:
- Chuchuquinho, é você!
- au, au, au. Fez o Chuchuquinho, morto de medo.
Tiraram o cãozinho da armadilha, enfaixaram a sua patinha, depois de medicada com os primeiros socorros. Partiram para casa. Chuchuquinho, tremendo de medo, olhava para o pai que nervoso dizia:
- Pensou na sua mãe, seu cãozinho maluco? Quando chegarmos você vai saber o que é bom pra tosse. Podia ter morrido se aquela armadilha pegasse no seu pescoço. Como pôde arriscar a vida por causa da curiosidade, seu desobediente? Eu sabia, eu sabia que um dia você ia fazer uma besteira.
Chegaram em casa. A mãe de Chuchuquinho veio correndo para encontrar o pai e falar do desaparecimento do cãozinho. Não foi preciso. Quando ela avistou o filho, correu para ele ganindo de alegria. Então o pai contou a história. A mãe disse severamente:
- De hoje em diante, você está proibido de chegar até o portão da casa sem que eu saiba. Ficará, duas semanas sem comer ossinho, uma semana sem brincar com seus irmãos na beira da piscina da casa, até aprender a obedecer.
Chuchuquinho dizia, entre lágrimas:
- Está bem mamãe, está bem mamãe...


Moral: A desobediência pode trazer trágicas conseqüências.

A BONECA ZAROLHA

Era uma vez, numa loja de brinquedos, uma boneca que nasceu zarolha. Ficava exposta na mais alta prateleira, nenhuma menina a queria. Vivia triste. Via as outras bonecas serem escolhidas e levadas para casa em lindos pacotes enfeitados.

Um dia, uma boneca de cabelos louros disse:

- Sabe por que ninguém quer você? Por causa dos seus olhos. Eles são feios demais. Veja os meus – disse a convencida – são azuis, perfeitos, lindos de morrer. Logo serei levada por uma menina.

A pobre zarolhinha chorou. Queria tanto ser escolhida, levada por alguém para fazer a felicidade de uma menina. Mas, não saía da prateleira.

Um dia, já estava perto do Natal, o dono da loja resolveu colocar a boneca zarolha na vitrine repleta de outras bonecas. A loja encheu-se de crianças. Todos os brinquedos foram vendidos. Das bonecas sobraram duas: a pobrezinha da zarolha e a convencida de olhos azuis.

O dono da loja pensou:

- A outra tem chance de ser vendida, mas a zarolha não tem jeito, vou jogá-la no lixo. Ninguém quer esta boneca.

Enquanto pensava no destino que daria à boneca, reparou num homem que parara diante da vitrine, empurrando uma cadeira de rodas onde estava sentada uma pequena menina. Ela apontava para a vitrine. O homem entrou, empurrando a cadeira e pediu:

- Posso ver aquela boneca que está na vitrine?

- Pois não, senhor. Qual das duas?

- A que está à esquerda.

Admirou-se, porém não disse nada. Abriu a vitrine e entregou a zarolha nas mãos do homem que a passou para a menina. Esta, emocionada disse:

- Papai, ela é tão linda! Veja a graça dos cabelos, os braços roliços... as mãozinhas... Veja os pés... são tão mimosos! O vestido é uma beleza! A carinha é rosada, perfeita. Compra ela pra mim, papai.

E o homem comprou, pagou e saiu empurrando a cadeira onde estava sentada a criança, levando um belo pacote no colo e, dentro dele, feliz estava a boneca zarolha.

Moral: Os olhos da alma são capazes de ver a beleza que os olhos da cara não vêem.

O TORRÃO DE AÇUCAR

Vamos, empurrem! Um, dois...três... levantar volume! Força companheiras! Unidas conseguiremos levar a carga. Atenção, atenção operárias da reserva, substituir companheira da esquerda. Alinhar fila. Acelerar passo. Vamos em frente, estamos chegando à descida da montanha. Psiu, você aí! Está fora de prumo. Alinhe-se ao resto da turma. Vamos, vamos!

- Chegamos. Cuidado com a descida. Preciso de mais auxiliares para ficar a frente do volume fazendo um cordão de amparo. Quero as mais fortes por causa da inclinação do terreno. Vamos, mexam-se! Não temos o dia todo. Alguém pode chegar e tirar de nós o volume. Façam de conta que isto é um exercício militar. Cantem comigo!

“Eu sou uma formiguinha

Tenho força de gigante

O que é mais importante

Tenho sempre comidinha.”

Minutos depois.

- Batalhão, parar para descansar! Podem comer um pouco da carga para restaurar as forças. – um minuto depois.

- Atenção! Erguer volume com cuidado. Retomar marcha! Caminhando, caminhando sem esmorecer. Isso! Avante! Pelotão de amparo fechar mais, não deixe espaço aberto em torno do volume!

- Já estamos no sopé da montanha, mais um pouco estaremos em terreno plano rumo ao nosso quartel. Cantem, cantem para acelerar!

“Eu sou uma formiguinha

Pareço muito fraquinha

O que é mais importante

Tenho força de gigante.”

- Atenção, estamos chegando ao formigueiro! Pelotão de inspeção, inspecionar terreno!

- Área limpa, general! – afirmou uma das formigas do pelotão.

- Preparar volume para descarga! Que venham as ceifadeiras e as carregadeiras. Soltar carga! Começar desmonte acelerado! Batalhão de transporte, dispensado!

Em questão de minutos o torrão de açúcar estava sendo levado, em grãos, para dentro do formigueiro.

- Vovó, você viu como elas fazem? Elas são como um exército de verdade, têm até um general de campo que dá as ordens. Eu pensei que o torrão de açúcar fosse cair quando elas chegaram à borda da pia, e quando desciam pela parede eu pensei: agora cai, mas que nada, elas fizeram um escoramento. Caramba! Bichinho inteligente! Demorou, mas elas conseguiram. – disse o menino sentado no chão da área de serviço, diante dum buraquinho do tamanho da cabeça de um pequeno prego onde estava instalado o formigueiro.

- Aprenda com elas, meu filho. Força, paciência, persistência, ordem e obediência são fatores para se vencer na vida.