Depois que os romanos souberam do nascimento de Jesus, eles ficaram furiosos porque haveria um rei para os judeus e, assim, ninguém mais obedeceria ao César. Foi aí que começou a perseguição. A ordem era pegar todos os nascidos naquela data. Todos os bebês do sexo masculino. Deus mandou um anjo avisar a José que era preciso fugir para um lugar bem longe onde não se pudesse encontrar o santo menino. E assim fez a família. É aí que entra o meu ancestral, um jumento forte e manso. Seu nome era Juma. Ele era muito respeitado no meio de todos os animais de carga, cavalo, burro, camelo, elefante e pelos da sua própria raça.
Quem estava contando esta história era um velho jumento chamado Nóca que havia se aposentado e como prêmio, pelos bons serviços prestados, seu dono o nomeou “Contador de Lendas” da sua fazenda. À noite, todo mundo se reunia em volta da fogueira, no terreiro da casa grande, para ouvir o jumento. E ele continuou a narrar a história e as crianças ouviam com muita atenção.
José, o pai de Jesus na Terra, saiu a procura de uma montaria que fosse forte e muito esperta, porque a caminhada até o Egito era muito longa. Ele começou a escolher entre os jumentos, aquele que teria a honra de levar na sua garupa Jesus e sua mãezinha. Parou diante de Juma e perguntou:
- Tens força o suficiente para conduzir minha família até o Egito?
- Tenho sim. – respondeu Juma com sua voz calma.
- Então, serás tu quem levará minha família e me ajudarás a defendê-la por toda a viagem.
De madrugada partiram para a terra estrangeira. Já estavam bem longe quando os romanos começaram a busca. Juma notou que uma cobra rastejava atrás dele deixando marcas no chão que podiam ser seguidas e assim alcançar a família. Juma parou e disse:
- Que o vento me siga apagando todas as marcas do chão. - E o vento veio e limpou a estrada de todos os passos do jumento e do rastejar da cobra que percebeu o mal que podia causar seguindo o jumento, e se foi para o mato. A viagem continuou. A certa altura da estrada, surgiu uma hiena e perguntou ao jumento:
- Esta é a criança que salvará o mundo? – Juma disse que sim. Então a hiena resolveu seguir o grupo. Mas aquela sua voz, que mais parece uma risada, alertou os romanos que estavam desorientados depois que o vento apagou os rastro do jumento e as passadas de José. Juma, com seu faro aguçado, percebeu que os soldados estavam se dirigindo, outra vez, para a estrada onde eles estavam. Então o jumento disse para a hiena:
- Vai-te daqui. Teu riso funciona como uma bússola. Corre para o deserto e eles te seguirão. – a hiena obedeceu. Outra vez os soldados ficaram confusos, não sabiam em qual das estradas viajava Jesus e seus pais. Ainda faltava muito para chegar ao Egito. Já era noite e José resolveu parar para que Maria descansasse e cuidasse do menino. Armou a tenda e saiu procurando lenha para acender uma fogueira porque a noite fazia muito frio. Juma, muito zeloso da segurança da sagrada família alertou José:
- Acender o fogo é reconfortante. Aquece o corpo, mas a fumaça indica o local onde estamos. – José concordou com ele e perguntou:
- Como farei para aquecer a mãe e o filho? Juma, com a sabedoria que tinha herdado de seu pai, resolveu a situação dizendo:
- Que venha a neblina por toda a estrada para encobrir a fumaça do fogo. – E assim aconteceu. Caiu uma densa neblina que não deixava enxergar nada. No dia seguinte continuaram a caminhada. Faltava só meio dia de andança para que eles chegassem ao seu destino, quando Juma ouviu um canto denunciador: bem-te-vi, bem-te-vi, viiii, bem-te-viii-bem-aquiii. Juma ficou preocupado e perguntou ao bem-te-vi pousado num galho de tamareira:
- Queres entregar o filho do Deus que te criou nas mãos dos romanos? – O bem-te-vi, assustado, disse que não. Estava cantando de alegria e comunicando aos outros pássaros a presença de Jesus naquele lugar.
- Então vai para o meio da floresta e canta lá para atrair os romanos. Já falta pouco para chegarmos.
E o bem-te-vi obedeceu deixando os romanos perdidos de vez. O resto da viagem foi só tranqüilidade. Eles chegaram, são e salvos, ao Egito e foram para uma casinha modesta onde Jesus cresceria. Depois de uns dias de descanso, Juma disse a Maria que ia voltar para Belém. Ela, muito agradecida, perguntou se ele não queria ficar ali com eles. Ele seria tratado como um membro da família. Juma aceitou emocionado e ficou na casa de José e Maria.
Jesus crescia rapidamente, já estava com dois anos quando deu um susto em Maria. Ela estendia as roupas no varal quando Juma passou por ela levando Jesus no seu lombo. A santa mãe disse para ele ter cuidado porque o menino poderia cair. Ao que Juma respondeu:
- O filho de Deus jamais cairá!
E Juma ficou sendo o companheiro fiel de Jesus em suas brincadeiras infantis. E quando Jesus, já adulto, entrou em Jerusalém, foi no lombo do seu amigo Juma que ele chegou arrastando multidões.
- Nóca, o seu ancestral era bem legal. – disse uma das crianças.
- Assim são os jumentos, fortes e leais.
As mães chamaram as crianças para dentro de casa, já era hora de dormir. Eles se despediram do jumento com a promessa de, no dia seguinte, ele contar outras histórias.
Nóca disse boa noite às crianças e foi para o seu cantinho descansar com a certeza de ter dado alegria àqueles meninos e meninas. Em oração ele pediu ao amigo do seu ancestral Juma que cuidasse de todas as crianças do mundo.